

Maio trouxe altos e baixos na Bolsa de Valores, mas não impediu que ações que pagam dividendos proporcionassem alegrias aos acionistas. O Índice de Dividendos (IDIV) subiu 1,31% no mês.
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Maio trouxe altos e baixos na Bolsa de Valores, mas não impediu que ações que pagam dividendos proporcionassem alegrias aos acionistas. O Índice de Dividendos (IDIV) subiu 1,31% no mês.
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A líder em remuneração foi justamente uma companhia que se despediu da B3 na última sexta-feira (6), a JBS (JBSS3). O frigorífico desembolsou R$ 1 por ação em maio, com um dividend yield (retorno em dividendos) médio mensal de 2,43%. Apesar da saída, a ação seguirá ível via BDRs – título emitido no Brasil que representa uma ação de companhia aberta sediada no exterior – e na bolsa de Nova York (NYSE).
Os dados são de um levantamento exclusivo para o E-Investidor feito pela Quantum Finance, com apoio de Bruno Oliveira, analista do Vida de Acionista. O estudo reúne as 20 ações que mais pagaram proventos em maio, com base no dividendo por ação e na data com, que sinaliza quando o valor sai do caixa da empresa, mesmo que ainda não tenha sido creditado na conta do investidor.
Para garantir liquidez, ficaram de fora empresas com menos de R$ 1 milhão de negociação diária ou menos de dez investidores pessoas físicas na base acionária. Outra variável considerada foi o preço médio da ação em maio. “Em um cenário em que o investidor pode comprar em diferentes momentos, o preço médio se aproxima mais da realidade”, explica Oliveira. A partir desse preço, foi calculado o dividend yield mensal, o que reduz distorções causadas pela volatilidade, como, por exemplo, as oscilações recentes do Banco do Brasil (BBAS3) – entenda aqui.
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O levantamento também traz o número de ações outstanding, ou seja, aquelas efetivamente em circulação no mercado. “É importante essa classificação porque há papéis em Tesouraria que integram a base acionária total, mas não são considerados na distribuição de proventos”, completa Oliveira. Ele lembra ainda que os dados refletem apenas o mês de maio. Por isso, ao escolher ações para o longo prazo, é essencial avaliar se os pagamentos são recorrentes ou pontuais e se a volatilidade de uma ação representa risco ou oportunidade.
Nome | Código | Valor por ação em maio | Dividend yield mensal – com preço médio da ação em maio | Preço médio da ação em maio | Ações Outstanding ou em circulação até 30/5 |
JBS | JBSS3 | R$ 1,00 | 2,43% | R$ 41,15 | 2.218.116.370 |
Petroreconcavo | RECV3 | R$ 0,90 | 6,35% | R$ 14,18 | 292.919.190 |
Engie | EGIE3 | R$ 0,88 | 2,15% | R$ 40,69 | 815.927.740 |
Moura Dubeux | MDNE3 | R$ 0,59 | 3,27% | R$ 18,06 | 83.813.327 |
Taesa | TAEE11 | R$ 0,55 | 1,54% | R$ 35,46 | * |
SLC Agrícola | SLCE3 | R$ 0,55 | 2,87% | R$ 19,06 | 440.887.356 |
Wilson Sons | PORT3 | R$ 0,48 | 2,80% | R$ 17,31 | 440.977.900 |
Banrisul | BRSR5 | R$ 0,36 | 1,96% | R$ 18,44 | 1.373.091 |
BR Partners | BRBI11 | R$ 0,30 | 1,96% | R$ 15,33 | * |
CSN Mineração | CMIN3 | R$ 0,24 | 4,22% | R$ 5,66 | 5.432.044.538 |
Log | LOGG3 | R$ 0,24 | 1,11% | R$ 21,17 | 87.594.658 |
Klabin | KLBN11 | R$ 0,23 | 1,19% | R$ 19,24 | * |
Odontoprev | ODPV3 | R$ 0,22 | 1,96% | R$ 11,04 | 545.825.286 |
Alupar | ALUP11 | R$ 0,21 | 0,70% | R$ 30,16 | * |
Taesa | TAEE4 | R$ 0,18 | 1,54% | R$ 11,83 | 442.782.652 |
Telefônica Brasil | VIVT3 | R$ 0,15 | 0,55% | R$ 27,93 | 3.261.287.392 |
Ambev | ABEV3 | R$ 0,13 | 0,90% | R$ 14,22 | 15.660.540.645 |
Vulcabras | VULC3 | R$ 0,12 | 0,62% | R$ 20,19 | 271.667.244 |
Tim | TIMS3 | R$ 0,12 | 0,63% | R$ 19,53 | 2.419.804.278 |
Gerdau | GGBR4 | R$ 0,12 | 0,78% | R$ 15,37 | 1.309.848.730 |
Fonte: levantamento Quantum Finance com Bruno Oliveira Vida de Acionista. *Não existe ações outstanding para papéis units, pois estes representam um pacote de um determinado número de ações ordinárias e preferenciais.
Oliveira destaca que empresas ligadas a commodities, como JBS, Petroreconcavo (RECV3) e CSN Mineração (CMIN3), tendem a distribuir mais proventos no primeiro semestre. Já companhias menos expostas, como Tim (TIMS3), Telefônica Brasil (VIVT3) e Alupar (ALUP11), costumam pagar menos. Ele lembra ainda que nomes como Taesa (TAEE11), Engie (EGIE3), Telefônica Brasil, Klabin (KLBN11) e BR Partners (BRBI11) geralmente fazem anúncios mais robustos no fim do ano.
Embora o ado sirva de referência, o foco agora está nas perspectivas, que, por sorte, são otimistas. Entre as cinco maiores pagadoras da lista: JBS, Petroreconcavo, Engie, Moura Dubeux (MDNE3) e Taesa, as projeções de analistas apontam dividend yields de até 11% nos próximos 12 meses. Confira abaixo o que esperar e se vale ter na carteira de dividendos.
Embora as ações da JBS deixem de ser negociadas, o investidor ainda pode comprar BDRs ou os papéis diretamente nos EUA. Mas analistas alertam para uma possível mudança no perfil da empresa.
Nos últimos 12 meses, a JBS teve dividendos robustos e compromisso com acionistas. Agora, o foco na valorização e internacionalização pode reduzir o interesse em distribuir lucros, segundo Regis Chinchila, head de Research da Terra Investimentos. Ele aponta que novos recursos podem ir para fusões, aquisições e crescimento orgânico. “É esperado uma moderação nos dividendos, embora a política de remuneração se mantenha relevante”, comenta.
Com maior visibilidade internacional, as ações podem ter alta de múltiplos de até 80%, o que eleva o preço do papel e, portanto, reduz o dividend yield. “Só valeria continuar investindo ou comprar com foco em dividendos se o investidor estiver aberto a ganhar com valorização do capital e a enfrentar a volatilidade da reestruturação do negócio”, avalia.
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Como alternativa, Chinchila cita a Marfrig (MRFG3), maior pagadora de dividendos da Bolsa em 2024, com dividend yield de 29,21%. O desempenho foi impulsionado pela recuperação da BRF (BRFS3), da qual detém 50,49%, além de vendas de ativos e gestão de capital eficiente. Mas ele adverte que essa distribuição de dividendos foi pontual.
“Marfrig não pagou dividendos em 2020 e 2023, o que indica volatilidade e dependência de eventos extraordinários para remunerar acionistas.” Uma eventual fusão com a BRF pode gerar incertezas no curto prazo. Para 2025, o dividend yield da Marfrig deve cair para entre 5% e 10%, segundo o analista.
Jayme Simão, sócio-fundador do Hub do Investidor, também não vê boas perspectivas para a JBS. Estima que os BDRs devem entregar no máximo dividend yield de 4% devido ao ciclo pressionado do mercado de bovinos nos EUA. Segundo ele, a dupla listagem da JBS deve destravar valor, mas não dividendos.
“O setor de frigoríficos não oferece boas alternativas de renda iva neste momento. Minerva e BRF não têm previsibilidade para sustentar pagamentos consistentes”, avalia Simão. O dividendo de R$ 1, distribuído em maio, está provisionado e deve ser pago em 16 de junho, após o fim da nova listagem.
A Petroreconcavo vem ganhando espaço entre investidores como uma alternativa mais segura à Petrobras (PETR3; PETR4), com bons dividendos e sem risco estatal. Lucas Lima, analista-chefe da VG Research, projeta que nos próximos 12 meses a petroleira deve manter forte geração de caixa e, sem novas aquisições, destinar o capital para dividendos. Ele também aponta que a volatilidade do petróleo do tipo Brent diminuiu, com o barril a US$ 68 nesta quarta-feira (11), o que facilita a geração de caixa.
“A Petroreconcavo possui um custo de extração baixo, em torno de US$ 13,6 por barril, e um ponto de equilíbrio de quase US$ 50. Isso garante que a empresa mantenha uma boa margem de lucro sempre que o petróleo negociar acima de US$ 60”, explica.
O risco, segundo Lima, vem da ausência de uma política formal de dividendos. A empresa pode, a qualquer momento, mudar o foco para o crescimento, realizando fusões e aquisições, e reduzir os proventos. Ele recomenda compra de RECV3, com dividend yield projetado de 11% nos próximos 12 meses.
Na Engie, que atua com geração e transmissão de energia, a tendência é de redução de proventos. Oliveira, do Vida de Acionista, lembra que a empresa já indicou aumento da dívida por conta de investimentos recentes de cerca de R$ 10 bilhões. O payout (parcela do lucro destinada a proventos) deve ficar em 55%, ante os 100% de anos anteriores. “No futuro, com a redução da alavancagem, podemos esperar um aumento expressivo do payout, uma alta de 80% em relação à remuneração atual”, comenta Oliveira.
Ele destaca o retorno sobre o capital investido (ROIC) da Engie acima de 20% na última década e a diversificação entre geração e transmissão, segmentos resilientes diante da instabilidade macroeconômica. “A política de proventos é responsável e transparente, sempre coerente com o divulgado pelos executivos. A companhia possui um controlador definido com atuação global e sinergias com a filial brasileira”, diz.
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Como desvantagem, Oliveira avalia que a ação está sempre cara, o que limita o dividend yield e dificulta os aportes. “É difícil o retorno em dividendos superar os 8%”, pontua. Para quem comprar agora, ele estima dividend yield de 4,8%.
Após anos sem pagar dividendos, a Moura Dubeux voltou a remunerar acionistas em novembro de 2024 e planeja distribuir R$ 100 milhões em proventos por ano. Para Lima, da VG, isso garante um dividend yield de 5,4% nos próximos 12 meses. “O patamar é sustentável porque a companhia está entregando resultados consistentes”, afirma.
Simão, do Hub do Investidor, projeta algo próximo a 6% e destaca a eficiência da empresa, com foco regional no Nordeste e menor concorrência. “Há crescimento saudável das vendas e lançamentos, com boas margens de lucro. Os dividendos podem crescer a partir de 2026”, diz. Ele lembra que a empresa fechou o ciclo de captação iniciado em 2020, fez boas vendas de imóveis e agora remunera investidores.
Simão vê espaço para os pagamentos continuarem por um bom tempo, mas alerta que, por ser uma ação de setor cíclico e regional, não serve para carteiras de longo prazo, porque fica muito exposta a riscos locais.
A Taesa sempre foi favorita entre investidores de dividendos, mas hoje preocupa pelo alto endividamento, com relação de 5 vezes dívida líquida sobre o lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) e pela necessidade de investir diante do vencimento de suas linhas de transmissão nos próximos anos.
Há receio de que a empresa se endivide ainda mais para manter os proventos. Mesmo após mudar sua política em 2024, a remuneração ficou acima do esperado. Por isso, apesar de possível queda nos proventos, Oliveira ainda vê uma remuneração generosa em 2025, mas não recomenda comprar agora.
Segundo ele, enquanto a Taesa pode entregar um dividend yield de 7,6% com riscos, a concorrente Isa Energia (ISAE4) oferece cerca de 8,6% sem o mesmo nível de preocupação.
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